quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Sessão da Tarde
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Você tem orkut?
Está tão fácil estabelecer contato com quem tem acesso à internet, que eu ando meio assustado comigo mesmo. A possibilidade de acompanhar a vida de meus amigos, inimigos e, vá lá, de meus ídolos, é tão instigante quanto preocupante. Ninguém mais sai de nossa vida de vez, a menos que queira. Extinguiram-se os amores de verão: é simples encontrá-lo no inverno, à distância. O anonimato, até nos casos em que é requerido, funciona cada vez menos. A despeito das pistas falsas plantadas para resguardar a identidade, qualquer deslize produz um indício passível de ser rastreado na web.
(Guardo minhas cartas na gaveta pra que elas não confundam minhas digitais.)
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Noubar Sarkissian Junior
sarkissianjr@gmail.com
twitter.com/sarkissianjr
http://noubarjunior.blogspot.com/
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=9450979052551595565
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Apenas o Começo
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Referência à viagem que fiz ao Rio no começo desse ano, onde, nesse mesmo lugar (entrada do Jardim Botânico), as meninas tentaram imitar as estátuas. Dessa vez, fomos nós, e o resultado ficou bem melhor.
Arpoador. Baita clichê turístico, mas chichê justamente por ser magnífico estar ali em um fim de tarde. É virar as costas pra cidade e encarar o mar de frente, e ver a água de cor indefinida junto às pedras. Aí lembrar do caetano cantando "barra, gávea e arpoador" e fazer o caminho mentalmente. Lembrar também quando liguei lá de cima pro Bruno querendo saber como tinha sido o show dos Los Hermanos na noite anterior e ele, desolado, disse ter perdido o voo. Bom, tradiçãozinha.
"Pensamos que todo pássaro cantando é feliz. Pode estar pedindo ajuda." (Fabrício Carpinejar)
Rocinha. Maurício nos alertou: "quando terminar o túnel, olhem pra trás. Sigam em frente, mas olhem pra trás. Irão ver a Rocinha." Impactante, não?
"Tem sempre de tudo no trem que sai lá da central". Esse lugar também soa meio anacrônico. Não tanto quanto os bondinhos de Santa Tereza (que, ao estarem tão deslocados no tempo, evocam um anacronismo delicioso), mas um pouco. E, no meio de tanto "arcaísmo", há os novos trens, cheios de ar-condicionado e letreiros eletrônicos. Algum envolvimento com esse lugar, com o filme do Walter Salles, com a música adolescente do Zeca.
Vontade de fazer lual na prainha. Integridade pra cantar "Hoje a tarde a ponte engarrafou..." e saber que poderíamos, sim, estar falando da ponte rio-niterói (mote da música). Não precisar, então, cantar "hoje a marginal engarrafou...". Junção de duas coisas tão caras a tantos de nós: música e praia.
Lapa. Sambistas fantasiados de sambistas, cantando "eu fui fazer um samba em homenagem a nata da malandragem...eu fui à lapa...". Tudo o que se espera ouvir ali, mas com uma autenticidade quase que involuntária. O rapazinho do pandeiro, com seus máximos 17 anos, era um fenômeno. Tinha os trejeitos e as marcas (dedos com esparadrapos à Seu Madruga) de um esforçado percussionista, e a habilidade e segurança de um bom percussionista. A mim aquele samba foi uma sessão de hipnose nostálgica. Pedi músicas outrora cantadas por meu grupo de pagode juvenil, ameacei pagar uma rodada de cerveja se tocassem "Falsa Consideração", não paguei, e revivi.
Paulistas.
E é isso. Sigo assim: esrevendo e contando o que eu vi, e desenhando meus passos em deslizes virtuais, nessa mistura de referências e reverências.
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"Eu não sou da sua rua,
Não sou o seu vizinho.
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.
Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é meu
Esse mundo não é seu"
(Arnaldo Antunes)
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Decreto
declaro, dormente,
eterno feriado;
trago, prudente, doutor,
dou terra e telhado...
e decreto adeus.
Ao sindicato da saudade
dedico o detalhe do dia;
o que um dia distante,
depois,
traz nós dois em dueto,
do lado,
de tantos sonetos
ditados...
e desligo o adeus.
Ao sindicato da vontade
entrego o destino;
destaco o p-a-s-s-a-d-o
e deito, 'detido',
de dias contados
vendo a tarde anoitar...
e adiaaaar meu adeus.
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P.S.: relevem o uso desses "efeitos". Fiquei entre publicar o poema (exercício) "normal" ou assim, ressignificado. Reforço minha interpretação de mim mesmo, e lhes aponto o que se passa comigo enquanto escrevo. Por outro lado, limito (ao expandir) e direciono sua leitura. Tudo bem?
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Ao atlântico
Queria poder sair: daqui
de vez
do sério
da linha
mais cedo
de mansinho
voando
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Lá Maior
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Chuva e Praia
(Procurando fotos que ilustrassem esse texto, o que eu mais vi foi gente se protegendo da chuva em plena praia. Tão desvirtuada fica a paisagem. Desvinculem de minhas palavras a noção de tempestades assustadoras, que essas também me afastam. No mais, deixemos chover. De leve, haikai, lembra?)
* frase de camila de sá
P.s.: foi eu falar da chuva e pedir que ela não viesse na hora do futebol, e pronto: ela veio, no último sábado!
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Com que roupa?
"vai chover... de novo
deu na tevê...que o povo
já se cansou...de tanto céu desabar"
(Marcelo Camelo)
rain, down
Come on rain, down
on me"
(Tom Yorke)
P.S.: enquanto eu escrevia, Carol falava (sem nem saber o que eu estava fazendo): "aí começamos a falar do tempo...puta conversa de taxista, de... (não lembro o outro)"
P.S.2: e que só não chova na hora do futebol.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Papel
Papel dá palavra
Papel no começo
enga tinhado
sentido, sem tema:
[papel pintado
de uma só vez]
pequena mão
papel ras-ga-do
se digo não.
Papel dá palavra
Papel em branco
de canto enfeitado
e letra aprumada
com tanto a dizer:
papel de carta
Amor de papel
par tido, sonhado,
em véu [escondido]
papel ________
assinado,
passado.
Papel dá palavra
e adoece
marcado, timbrado
[cercado] de fel
papel amarelo
tão perto do céu
pra quê o papel?
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P.S.: Papel dobrado:
passarinho
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Queime depois de ler
"Minha mão está suja
Escrevo por não gostar de esquecer. ( e quem gosta de ser esquecido?)
Dedicatórias. Mais gostoso que ganhar livros, é notá-los dedicados. De um calhamaço genérico e replicável, cria-se o especial. Cria-se a vontade de saber o que a pessoa quis lhe dizer ao oferecer esta ou aquela obra. Separemos os planos: há as dedicatórias formais, feitas geralmente pelos autores (como na foto acima), que refletem apenas uma admiração unilateral, idealizada; e há as dedicatórias sentimentais, tecidas por amigos, namorados, admiradores secretos. A estas me apego. Dedico-lhes gavetas e estantes, mais estas linhas. Às outras reservemos os museus, os grandes memoriais, e os póstumos leilões.
Ou reescrevê-las.(.)]
desorienta o incerto
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
p&b
brotam palmas.
Podre mas bento.
e palmos abaixo,
putrefato palácio.
Palavras prudentes
abraços impostos
dispostos parentes
bradam compostos:
"um bom rapaz..."
De paz precoce
e inesperada
Padece parado,
pequeno, partido,
embalado.
(pode o padre puni-lo?)
Balelas: e a benção.
Célebre epitáfio,
espetáculo hipnótico
de patética hipocrisia
Bravo!
Poucos aplausos
e um breve brilho fúnebre.
Pó.
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"A morte aumenta o caráter"
(se alguém souber a autoria, que diga.)
P.S.: poema escrito em exercício que autoriza apenas o uso de palavras que contenham "p" ou "b", mais artigos e preposições.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
é Briga
Foi bem em frente à Rede Globo. Bem ao lado da ponte nova, pomposa. Diria até que sob o alcance das câmeras de segurança da emissora. Após a freada, também esteve vigiada pelos meus olhos. A batida. Dois ônibus fretados, que acabavam de passar pela Berrini, e deixavam seus últimos passageiros nas respectivas empresas. O da frente brecou sem motivo explícito, e o de trás não teve tempo de parar: estampido. Quem bate atrás, dizem as leis de trânsito, SEMPRE está errado. Um sempre importante por ser objetivo (já que lidamos com versões normalmente opostas), mas inócuo e falho. No acidente de há pouco, o de trás não tinha o que fazer. E isso ele mesmo soube, mas assimilou com uma indignação por mim inesperada. O motorista, já de meia idade, saltou do ônibus e se dirigiu tresloucado ao motorista da frente, que saía com um semblante de "eu posso explicar". Não houve tempo. De súbito, uma tentativa de soco no rosto. Então, só porradas: desconexas, míopes, de raspão. Brigavam como quem erra de propósito. Como quem tem de brigar mas torce pra que a turma dos apaziguadores chegue logo e separe. Eu estava na calçada, meio atônito, meio nos tempos de briga no recreio, meio "que se matem", meio "e os passageiros?", meio "será que esperam que eu corra pra separar?". Mantive-me inerte, com uma leve reduzida de passo. Eu realmente não queria completar o ritual dos machões. Que ficassem lá até cansarem de errar um ao outro. Se fosse eu no ônibus da frente, sei lá, viu. O cara de trás já veio socando. Como eu me explicaria? Não teria jeito: seria correr ou sair no braço. Imagine um cara do meu tamanho (1,90m) correndo de um tiozinho barrigudo, bigodudo, clássico cobrador, mas motorista. Imagine um cara de minha pacatez (ficha limpa) trocando mãozadas com um quase-senhor. Foi nisso que fui pensando: em como eu também era um motorista da frente, sem voz, sem razão, sem rumo. E eu não era um motorista de trás, mas simplesmente por não saber brigar, porque nervosismo eu teria de sobra, sabendo que meu meio de trabalho estava avariado, que vários procedimentos burocráticos me aguardavam, e que haviam outras pessoas dependendo de meus serviços. Passei como mero espectador, sem o heroísmo dos "deixa-disso" nem a maldade dos que botam fogo ("orra...orra, vai deixar?"). Logo uns carros pararam, e motoristas engravatados "fizeram sua parte", mostrando que "não precisa disso", pedindo calma, e zelando pela paz mundial. Buzinas. Segurança comenta: "Que cacetada, hein?". Crachá. Catraca. Elevador. Tempo deles.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Corpo
e já és outro.
Olha, ouve, olfata...
Ou finge.
Finge que sente,
e mente, crente de saber
do teu poder de ser depois
Tente sobreviver à
minha morte,
eternizar meu mundo inerte,
fingindo beber a sorte
que nos fez dois
Tente, corpo estranho,
ser meu legado torto,
minha pena destacada,
meu aborto de mim mesmo
Verás que nunca tive alma,
que vivi pela metade,
pela maldade de assistir sua
liberdade
sem sequer anunciá-la
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Outra vez, tema e título obrigatórios.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Uma vontade de tocar violão
Sol maior.
Não tenho a destreza de um instrumentista profissional, nem a agradabilidade do timbre dos cantores de ofício, mas gosto tanto disso: sentar em qualquer lugar, fazer o ritual de afinação, e ensaiar a música favorita do dia. Com ou sem ouvintes, é bom. Com, o repertório é um grande desejo de satisfazer a expectativa do(s) outro(s). Sem, o que se passa é um repit interminável do que move meus ouvidos. Ontem mesmo, toquei "Last flower in the Hospital" umas oito vezes. (Quem mais suportaria?)
O violão é o instrumento mais indicado a pessoas como eu, já que é tão portátil e tão genérico. Leva-se pra onde for, e toca-se de tudo sem a necessidade de mais nada. Em casa ficam os adereços (cavaquinho, guitarra, bandolim), mas eles demandam coisa mais séria, de grupo. Pra legislar sobre minhas sensações, só o violão. Se estou triste, seu som faz da tristeza algo tão bonito que dá vontade de ter sempre. Se feliz, é como se ele levasse a mais gente uma dose de alegria.
E é até insólito o fato de eu me aproximar do violão ao mesmo tempo em que ele se distancia de meu ganha-pão. Já não vejo como muito plausível a possibilidade de viver DE música, mas cada vez mais vivo COM ela. Aos poucos vou fazendo as minhas próprias, e só a sensação que isso me causa já parece valer a pena. É decifrar um mundo antes intocável, apresentar-se a si mesmo, ser seu juiz. Se não convencer, é só voltar às dos outros, e tá bom!
Minha relação com a música parece mais madura, estabelecida. E por vezes juvenil, que é pra descompassar um pouco. Crescer é bom apenas porque as manias de jovens entram em evidência, ganham em importância. As reuniões violonísticas têm sido mais frequentes, e os espaços da usp têm me apresentado diversos malucos desejados, que param ao ver alguém com um violão, e logo se abrem, cantam junto, compartilham fraquezas e entusiasmos!
Acho sempre gostoso: cantar com os conhecidos e com os estranhos. Com estes normalmente não me encontro mais, e fica a promessa do "a gente marca de se encontrar". Fica a semi-amizade construída somente pela música que fizemos juntos, e a impressão de que muitos de nós poderíamos ter nos encontrado antes, com o auxílio de algum acaso de violão convidativo.
Cheguem mais perto, tragam suas folhas cifradas, suas memórias, seus anseios a serem cantados, que eu vou afinando por aqui.
(Apareçam!)
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Desenho de Camila de Sá (clique sobre ele para ampliar).
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Quase um pedido de perdão. Vão.
Hoje, por causa de um livro amassado, uma bosta de um Ulisses eternamente por começar, fiz minha mãe chorar.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Água
Rio de tua essência
antes que zombes de minha inútil solidez
Antes que leve, rio descendo,
as folhas envelhecidas,
envenenadas por si mesmas,
e foragidas de minha tez
Rio por ver-te mar,
por te perder de vista,
por não dimensionar sua vontade
Não temo sua liberdade,
mas seu poder, líquido lírico,
de ser o mais em mim
Se eu pudesse, chovia,
e riria, num raio que te anuncia,
ao ver sua força minha,
falha e frágil
Rio de ti, mesmo em poema.
O riso é o sol, raio que te evapora e te reforma
Rio se triste, se contente,
e concedo-lhe um lar
Te dou proteção
e não te faço lágrima
pois só és minha enquanto eu não chorar
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P.S.: texto produzido como exercício: gênero (poema), tema e título impostos e, descontado o desconforto da "primeira vez" (poema), bem aceitos.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Primeiro dia de aula
Ver um bando de rostos desconhecidos, e não ter mais a vontade de conhecê-los. Coabitar sem conviver. Cumprir, esperar acabar, desnotar. Desentender os motivos que me fazem continuar, e me conformar com o brinde de papel enrolado, quiçá enquadrado. Os amigos vão saindo pra rua, pra vida. A porta, traiçoeira, mostra a sombra, e nem dá pista de luz. O mundo é escuro ou meus olhos é que nasceram cansados?
Quando criança ainda havia a inibição, o medo de gente. Ouvir o nouBAR da chamada era o mote pras risadas dos "coleguinhas". Preferia as semanas seguintes, quando éramos chamados pelo número. 27, 28, até 30 fui. Tinha tempo suficiente pra fazer tarefas de casa enquanto os colegas das primeiras dezenas iam mostrar o caderno pra tia. Registrarei meus filhos do M pra frente, e lhes darei, de primeira, vários pontos positivos no diário da professora. Mentira. Filho é coisa do passado. Eu sou melhor avô do que pai, e ainda não descobri como driblar a genealogia.
Eu agia assim. Ia totalmente contrariado. Tinha pavor de conversar com meninas, pois "elas gostavam mesmo era dos caras das séries superiores". Ou se era um galãzinho, ou se tinha vergonha de estar ali perto delas, deusas de nossa imaginação. Procurava me amigar dos outros meninos, e optava pelos também estranhos. Formávamos turmas estranhas, falávamos de futebol (sem saber jogar), mulher (sem sonhar pegar), e de lições (que era o que restava). Tudo se ajustava, estranhamente.
Desgaste. Outro item pra coleção dos parágrafos melindrados. Vontade de começar as coisas pelo meio, de atalho.
Tão estranho e constrangedor: meu primeiro dia de aula.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
"Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir!"
Todos nós, em algum momento da vida, esbarramos com os caras dos Beatles. Pra uns há a influência de parentes fanáticos pela banda, pra outros há o embalo comum entre um grupo de amigos, e há ainda os que embarcam nessa por simples curiosidade: querem entender o que existe de tão especial no som desses ingleses. Eu sempre achei um grande exagero o ufanismo destinados a eles. Pra além disso, nunca manjei de inglês (isso atrapalha bastante a recepção de qualquer arte expressa por um idioma - pela palavra), e considerava-os musicalmente comuns. As pessoas foram insistindo, insistindo. Apontaram-me alguns atalhos. Topei.
Muito do que ouço deles ainda me soa estranho, mas o que alcancei pelos atalhos (indicações) já valeu os anos de resistência. Blackbird foi meu grande pretexto. Estranho pensar que uma música de 2 minutos fosse preencher tantas horas dos meus últimos dias. Ela e Across the Universe são o ponto de inflexão que me fez despertar: Beatles é bom demais. Depois vieram outras várias, sempre avalizadas, que me instigaram a arrumar qualquer desculpa pra pegar o carro no último fim de semana e colocar o som bem alto, imitando filmes. Eu gritava Let it Be e When I'm 64 como quem domina a língua saxã. Como quem substitui as buzinas e sirenes por um mundo só seu, de vento e som.
Os carros me servem mais é pra isso mesmo. Pra andar sozinho, com as músicas que me fazem sentir algo transformador, ou nostálgico. Os carros são os quartos de filho único, onde se tranca pra mergulhar em si mesmo. A diferença é que as pessoas te veem. No mais, continuam não lhe notando, por nem valer a pena, por correrem pra chegar mais rápido. Sigo. Irresponsavelmente ilhado entre os vidros. Passageiro de minhas músicas preferidas. Gosto disso.
Gosto dos Beatles desde o último fondue na casa da Carol. Desde a versão de Blackbird do Carlos. (Desde Criança.) Transformo minhas frustações em fixações pueris. Envolvo-me de um modo inegável. Gasto minhas fichas de uma só vez. Depois cansa? E aí descansa. Bom dizer agora, no crescente da paixão, pra que fiquem com o que há de melhor.
Numa esfera paralela, a vida vai passando. Vou anexando afinidades, intercaladas a cada brecha que me aparece. Vou fingindo parcerias, projetando futuros, dublando canções alheias. Quase sempre pegando a via melancólica de um fim de texto. Quase sempre escrevendo menos, almejando menos. Doses de desilusão estão cada vez mais permitidas aos maiores de idade. Confundam-me com um garoto. Permitam-me sonhos baratos, respiros fantásticos, e me ajudem a não ver o mundo real.
Help!
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