sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Narcisismo relativo

Ontem tive uma aula inesperada. Ela me renderá alguns dias de empolgação nos estudos. Quiçá mais tempo. Necessário mas não suficiente, como é de costume.
O que mais me instigou, no entanto, foi a reflexão que ela me proporcionou. Uma sensação de que meus pensamentos não fogem muito do convencional quando se trata de análises e julgamentos alheios. Falo da fofoca que se dá em nossa mente em algumas situações cotidianas: quando vemos alguma pessoa fazer algo que consideramos fútil; quando ouvimos uma conversa no ônibus e é preciso engolir um sorriso esnobe, involuntário; ou em quaisquer outros momentos propícios ao ato de compararnos aos que nos cercam. Isso acontece comigo o tempo todo (pensamentos como:"Que bosta esse cara tá falando!" "Ah, ninguém pode ter prazer em fazer musculação, em ver novela..." "Porra, será que ele pensa que casar virgem é realmente justificável? Senhor!"). E é até meio cruel, além de obviamente arbitrário. Apesar de parecer desleal, é inegavelmente prazeroso procurar defeitos nas pessoas. Defeitos que não julgamos possuir. De qualquer modo, não sou "do mal". Só começo a considerar-me mais um na tribo dos juízes sócio-factuais. Não me tome por arrogante, prepotente, convencido, etc. Ou tome, já que estamos falando de comparãções e julgamentos.
O catalisador desse impulso comparativo é o problema de não termos muitas oportunidades de conhecer profundamente as pessoas, acrescido do fato de pensarmos saber tudo sobre nós mesmos. Neste jogo desigual, optamos pela auto-confiança. Massageamos nosso ego para a vida fazer mais sentido. Talvez para justificar nossas escolhas. Para mascarar nossa mediocridade.
Foi na aula de ontem, ministrada pelo Flávio, que adotei a hipótese de que pensar assim é humano. Pré-julgar é nosso demais. Diria que quase uma neceessidade fisiológica. De auto-ajuda. Uma lisonja interior. Desqualificar o outro acaba sendo uma boa maneira de ornar a si próprio: uma dose diária de narcisismo.

domingo, 10 de agosto de 2008

D. R.

O que dizer? De todas as coisas indefiníveis, a que mais tem me causado conflitos é a de encontrar motivos para se ter um blog. Óbvio que a vontade de escrever é o principal, mas nem tanto. Já começo a considerar assaz relevante o fato de isso aqui funcionar como transmissor das sensações que eu não consigo demonstrar pessoalmente. Dia desses uma amiga me falou sobre isso: pelo blog ela pôde me conhecer um pouco mais. Ontem, outro amigo disse que às vezes dá uma passada por aqui. Pois então, tá aí! Não há dúvidas de que isso sim é importante. Seria muito mais fácil se eu me concentrasse em ser mais sociável, mas sei que não costuma dar certo. Minha sociabilidade tem uma parcela exclusivamente dependente do que eu escrevo. Nada de dizer que "escrevo pra viver". Muito longe disso! (Bom, "vivo pra escrever" dispensa comentários) O que acontece, simplesmente, é que acho legal. Por enquanto, sigo com o blog e agradeço aos amigos que o ressucitam de tempos em tempos.
E você pode achar tosco.