terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sobre estar Só




Periodicamente, busco a solidão. Depois de fases efêmeras em que a vida social se mostra mais gentil e em que consigo cumprir razoavelmente minhas atribuições estudantis, sinto um esgotamento que tende a me afastar da existência pública. As boas aulas da faculdade perdem seu magnetismo; teatros, cinemas e casas de shows ficam pra mais tarde. Passo a querer estar em casa, deitado a violão, filmes, e leituras descontraídas. Saio do trabalho banal e corro em busca do prazer que só encontro aqui ! Colocar o pé no sofá, comer na sala, mijar de porta aberta: de verdade e sem culpa.



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O que pode parecer sombrio e melancólico, no meu caso, é benéfico demais. Nestas circunstâncias, isolo-me até mesmo pra lembrar da magnitude de tudo. Pra não esquecer que há outras coisas pra se fazer, que por diversas vezes serão por mim melhor aproveitadas do que uma aula, mesmo que tais coisas sejam as mais singelas ou aparentemente pouco profícuas atividades mundanas (exemplo: tocar sempre a mesma música, pra você mesmo). O mundo acadêmico é maravilhoso, mas cansa os que, como eu, carecem de disciplina e estabilidade. Fujo dele para retiros ignorantes mas revigorantes! Pra cultivar saudades...sentir falta...voltar ávido de conhecimento!
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Ah, solidão! Quanto bem você me faz! Como afastamento voluntário (temporário), e não como reflexo de abandono, eu gosto. Uso parte desse tempo reciclado para pensar no que meus amigos podem estar fazendo (especulo sobre o que pensam numa digressão em meio à fala de um profesor prolixo); no que, por ventura, supõem que estou fazendo; quanto àqueles com quem já não tenho contato, imagino destinos: revivo algo bom. A maior parte do tempo, no entanto, eu reservo aos meus descompromissos. O certo é que estar sozinho é um ritual salutar à manutenção de minha saúde mental, mas também indispensável à doce loucura de imaginar que o mundo é, por um instante, só meu: vê-lo de fora...e notá-lo dentro de mim.
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P.S. Paradoxalmente, esta é uma solidão compartilhada, pois publicada.
P.S.2. Se preferir, considere tudo isso como uma inócua apologia à vadiagem (vagabundagem) ou aos sintomas iniciais da depressão. Associação sua.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Linha de Passe: o jogador de futebol



Como mote pra esse e pra outros possíveis textos, uso o filme de Walter Salles e Daniela Thomas, "Linha de Passe", magnífico, e que trata de um universo incomparavelmente mais amplo.
Ouvem-se aos montes comentários que colocam a vida de um jogador de futebol como "fácil": faz o que gosta, ganha fama, prestígio, e milhões. Para nós, torcedores, muitos deles poderiam ser substituídos pelo craque do nosso bairro ("Ah, até o Cadu joga mais que o Richarlison!"). O que determina qual o atalho para uma carreira dessas, curta mas suficiente? Quem decide quais meninos terão o privilégio de serem ovacionados por torcedores insanos?


A superfície da chamada indústria da bola é por demais traiçoeira. Incontáveis José's, Dudu's, Noubar's (é...talvez não), foram preteridos para que um Robinho brilhasse. O ritual da "peneira", promovido pelos grandes clubes do Brasil, representa o que é sem dúvida o mais concorrido vestibular do país. Ademais, sua forma de seleção não possui critérios objetivos nem previamente estabelecidos: vale a atenção e a boa vontade do "olheiro", como também um empresário que tenha bons contatos. Sua relação candidato/vaga é o retrato de uma sociedade cuja esperança é tenaz e quase cega. Pra esmagadora maioria dos garotos que se submetem a tais testes, o futebol é uma das unicas maneiras de ascender socialmente. Ou o emprego de operador de telemarketing; ou o crime; ou ser objeto de assistencia social; ou a bola.


Se conseguir utrapassar todos os obstáculos e alcançar a profissionalidade, o jogador tem agora uma nação a representar. É catalisador de emoções que variam a cada lance. Precisa honrar uma camisa pesada pela tradição que ele não construiu. Está na mira de torcedores que cada vez mais esperam produtividade ao invés de espetáculo. É alvo das cruéis "concentrações", que encarceram o aglomerado de jogadores sob o pretexto de contrtolar alimentação, sono e sexo: um atleta depende do seu corpo. Afinal, dizem os profissionais da bola, "carreira de jogador dura no máximo até os 40 anos...depois disso ele terá muito tempo pra curtir a vida." (Pô, ainda bem que brotam opções de lazer para a terceira idade a todo instante!) O estado psicológico, acima de tudo, tem de estar pronto para entender que um grande clube, principalmente no Brasil, traz muita responsabilidade consigo e não admite displicência, insubordinação, nem falta de determinação.


É óbvio que, a despeito disso tudo que eu citei, os jogadores ainda têm prazer em jogar futebol e, mais claro ainda, é o fato de eles não refletirem muito sobre a função social do futebol, até porque são bem pagos para treinar, concentrar, e jogar. Só. Uma pena é ver cada dia mais a boleirada se quebrando toda, reconstruindo joelhos, morrendo em campo. A robótica chegou aos campos e minha frustração de jogador amador diminui gradativamente, e vai sendo substituída pelo prazer da pelada descontraída do fim de semana.
P.S.:Qualquer idéia aqui apresentada sai de cena quando o meu São Paulo entra em campo: aí, sou mais um dos apaixonados.


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Pra um lugar seguro


Algumas pessoas têm virtudes que me causam sincera inveja. A principal destas virtudes - e, se eu soubesse disso antes, hoje não usaria meu tempo pra escrever - é a resignação diante da existência banal. Sentir-se feliz com a "vida que Deus me deu" é hoje meu sonho de criança. Se eu voltasse à minha infância, tentaria ser um bom filho, ter planos concretos: dar algum orgulho aos meus pais e à minha vó. É certo que eles, de certo modo, não reclamam daquilo que me tornei, mas não compreendem bem quais os motivos que me levaram a estudar algo sem muito reconhecimento, nem por que razão não tenho gana para trabalhar (diria que tenho uma preguiça demasiada), para ganhar mais grana e conquistar objetivos "normais" (roupas, eletrônicos, carro). Para os que me conhecem, nem é preciso citar a disparidade dos destinos de meu irmão e eu. Em momentos como esse, é ele quem eu queria ser. Por mais que eu sustente discursos humanistas, que tenha sonhado em mudar o mundo dando aulas de História, que questione as injustiças que nós, homens, impusemos à vida social, é meu irmão que ajuda meus pais. É ele que busca o tempo todo uma vida mais feliz; que demonstra carinho à família; que paga algumas de minhas contas sem tentar me fazer submisso. A despeito de minha hipocrisia, ele sim é o bom filho, neto, irmão.


Minha maneira neurastênica de viver só funciona com o auxílio do egoísmo. Enquanto minha mãe e minha vó arrumam minha cama, preparam minha comida e se preocupam com meu bem-estar, eu sigo em meus devaneios de aluno de Humanas que vê futilidades em quase todas as pessoas. Sigo frio com minha mãe, quase patriarcal: de uma maneira só as vezes consciente (como agora). Despejo nela dúvidas sobre sua qualidade maternal.


Nas horas vagas, minha mãe reza, minha vó vê novela e costura, meu pai...vê novela e come. Ah, minha irmã namora e meu irmão curte a vida de vários modos. Eu toco violão e escrevo, longe de todos eles. Muita gente já disse que a felicidade é maior quanto menor for a necessidade de entender a vida. O que penso, agora, é que talvez chegue pra todos o dia em que o fracasso dos sonhos seja nítido. Um momento de dizer a si: "Caraca, o mundo real não funciona do meu jeito. Preciso correr atrás do dinheiro que esnobei, das pessoas que me querem bem e de motivos pra ter alegria." É horrível imaginar que esta hora esteja chegando pra mim. Voltar à superfície pode não ter o efeito esperado. Talvez não seja possível voltar ao seu mundo, mamãe.


P.S: às pessoas que moram comigo, e que nunca irão ler isso aqui, beijos.

P.S2: aos amigos que têm me estimulado, beijos e abraços (pra machões que não aceitam beijos de macho).