sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Uma vontade de tocar violão



Sol maior.

Não tenho a destreza de um instrumentista profissional, nem a agradabilidade do timbre dos cantores de ofício, mas gosto tanto disso: sentar em qualquer lugar, fazer o ritual de afinação, e ensaiar a música favorita do dia. Com ou sem ouvintes, é bom. Com, o repertório é um grande desejo de satisfazer a expectativa do(s) outro(s). Sem, o que se passa é um repit interminável do que move meus ouvidos. Ontem mesmo, toquei "Last flower in the Hospital" umas oito vezes. (Quem mais suportaria?)

O violão é o instrumento mais indicado a pessoas como eu, já que é tão portátil e tão genérico. Leva-se pra onde for, e toca-se de tudo sem a necessidade de mais nada. Em casa ficam os adereços (cavaquinho, guitarra, bandolim), mas eles demandam coisa mais séria, de grupo. Pra legislar sobre minhas sensações, só o violão. Se estou triste, seu som faz da tristeza algo tão bonito que dá vontade de ter sempre. Se feliz, é como se ele levasse a mais gente uma dose de alegria.

E é até insólito o fato de eu me aproximar do violão ao mesmo tempo em que ele se distancia de meu ganha-pão. Já não vejo como muito plausível a possibilidade de viver DE música, mas cada vez mais vivo COM ela. Aos poucos vou fazendo as minhas próprias, e só a sensação que isso me causa já parece valer a pena. É decifrar um mundo antes intocável, apresentar-se a si mesmo, ser seu juiz. Se não convencer, é só voltar às dos outros, e tá bom!

Minha relação com a música parece mais madura, estabelecida. E por vezes juvenil, que é pra descompassar um pouco. Crescer é bom apenas porque as manias de jovens entram em evidência, ganham em importância. As reuniões violonísticas têm sido mais frequentes, e os espaços da usp têm me apresentado diversos malucos desejados, que param ao ver alguém com um violão, e logo se abrem, cantam junto, compartilham fraquezas e entusiasmos!

Acho sempre gostoso: cantar com os conhecidos e com os estranhos. Com estes normalmente não me encontro mais, e fica a promessa do "a gente marca de se encontrar". Fica a semi-amizade construída somente pela música que fizemos juntos, e a impressão de que muitos de nós poderíamos ter nos encontrado antes, com o auxílio de algum acaso de violão convidativo.

Cheguem mais perto, tragam suas folhas cifradas, suas memórias, seus anseios a serem cantados, que eu vou afinando por aqui.

(Apareçam!)



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Desenho de Camila de Sá (clique sobre ele para ampliar).

3 comentários:

Anônimo disse...

No próximo churrasco, levarei umas 5 cifras de músicas que eu gosto ( assim não sobrecarrega aos que tocam o "fardo" de sempre iniciarem as músicas..), assim não ficamos depedententes de determinadas sambinhas /ou pagodinhos que possam aparecer na minha cabeça, tais como Molejo (Andrezão!), Exaltasamba, SPC ( eu vou dar um monza pra me defender.....) entre outros arquitetos da música popular(esca).Topa essa idéia ?

Chiste para todos !

Carol Kuk disse...

Ainda vou comentar esse post! Mas calma... Não hoje... Preciso pedir inspiração pro Gilson.

Beijos

Carol Kuk

Carol Kuk disse...

Nesse texto, eu só gostei da foto!! hahaha. brincadeira... toca 'Luiza' aí, Bita!

beijos

visitei seu blog hoje aos 43 do segundo tempo!