Queria poder sair: daqui
de vez
do sério
da linha
mais cedo
de mansinho
voando
E o mar? o mar não acaba nunca. A estrada? demora bastante pra terminar. Termina porque o mar é maior, e aparece. Vá até o fim da estrada, e tudo vira água. Saia. Eu sairia também, mas (mais) covarde é o receio que me habita. Estranho é querer tanto uma coisa, como queremos tanto tantas coisas, e apenas vigiá-la de longe. O olhar basta ou atenua. Não deveria. Melhor se atiçasse, impulsionasse. Ontem renovei meus impulsos de aventureiro. Ontem acumulei mais planos de fuga. Uma hora a gaveta enche de projetos, e há de se fazer algo: joga-se fora ou aplica-se. Aquele filme sabe muito de mim. Investigou meus anseios e os apresentou à telona. O acaso, a falta de ação, o olhar acentuado em detrimento dos sentimentos, o seio branco da mariana ximenes, a diretora no após, a saborosa velhice nas palavras, o caio em suas paixões-relâmpago, a descida da augusta, o outro seio dela, os finais todos, a rodoviária do tietê, o tal do hotel, a sensação de que quase sempre vale a pena, o cansaço. Isso sou eu, e estava ali: no convite, no filme, no voltar pra casa, no ter de escrever sobre isso, no não tentar clarear as idéias, mas sim libertá-las. Pegou, pegou. O que não sacar critica, invalida, esquece, lê de novo. A tal da kinderovologia do melamed. O danoninho que dava pra colocar no congelador e virava sorvete. Há algo melhor? Não há: a minha combinação preferida (agora) é estudar kinderovologia enquanto chupo um sorvete de danoninho. Ainda melhor se fosse na casa da árvore, com Tom Yorke fazendo um fundo musical. A experiência desse filme me fez bastante bem, mas isso não garante a recomendação. Vá ver "hotel atlântico" algum dia desses. Vá pelo seu deslocamento no mundo, por suas vontades mal-resolvidas, pela chance de cantarolar "socorro, não estou sentindo nada", pela bela fotografia, pelos ótimos Julio Andrade e João Miguel, pelos inesquecíveis seios da ximenes, pela vontade de usar um possível desapontamento para desfazer de mim em qualquer situação permissiva. Vá sim, me conte o que viu, como reagiu. Conte-me onde sua vida foi parar. A cena em que dois dos personagens vão ao encontro do mar é das mais belas que já vi. O mar, que "não acaba nunca". Ainda mais contagiado, saio agora, com danoninho e kinder ovo na mala, e vou à praia, pra ver se ela ainda é aquilo tudo mesmo.
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Em cartaz no Espaço Unibanco da Augusta, São Paulo.
3 comentários:
Pena.
Grandíssima penatédioarrependimentosaco.
Não li a tempo, não vi, não comento.
Troquei pelo corpo nu do senhor de 50 anos que – espero – não será inesquecível.
A falta de ação, sim, mas em vez do olhar acentuado, o desviar.
Pra além das minhas lamúrias, o texto é um convite ainda melhor que o de Apenas o fim.
Se te repete, me apetece. E aos outros leitores, talvez em menor escala. Talvez não.
Sair de danoninho e kinder ovo na mala é estar mais do que bem equipado pra desbravar o mundo, o mar, ir até o fim da estrada. E é também chave pra abrir a gaveta, o tempero pras palavras da velhice posterior.
Se tudo virar água, tudo bem poeta, pq vc mesmo disse “que já sabe nadar”.
Beijos
Talvez não em menor escala... o que é ao mesmo tempo convite e a lembrancinha do casamento... rs. Esses textos têm o dom de misturar as impressões às expectativas. A sensação de já lembrar com carinho de alguma cena que muito se espera.
Mal vejo a hora - acabando as provas, estou lá! Espero que o filme em cartaz ainda esteja!
Parabéns, Noubar. Pelos textos acima e abaixo também...
Beijos.
Ah, e outra: a Sarah escreve por demais! Lindo, lindo...
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