quinta-feira, 4 de junho de 2009

Olha a gente ali na telona!


Eu não poderia deixar a poeira baixar. Não nesta noite. Quantas vezes ficamos extasiados com alguma coisa e perdemos a chance de registrar tal encanto? Muitas, mas hoje não. Hoje minhas horas de sono valem menos. Iludo-as num convite a dias sonâmbulos. Se eu não escrevesse agora, morreriam os exageros de uma mente neurastênica. Portanto, aguentem. Vocês se contentam em suportar meu ímpeto, e eu satisfaço minha vontade de "contar pra mais alguém".

Saí há pouco de uma sessão de cinema, e ela ainda não saiu de mim. Ela merece qualquer clichê ou paixonite, dessas bobinhas. Ela não, ele: o filme. Vi "Apenas o Fim", que é de um moleque chamado Matheus Souza, se não me engano. E moleque mesmo: tem a minha idade, e vários centímetros a menos. É um prodígiozinho formado em cinema pela PUC-Rio. Desde o trailer, coisas boas se anunciavam. Ouvir "Pois é"* assim, em cheio, só poderia ser incrível. Num filme em que as referências de alguém que cresceu nos anos noventa saltam, então...

Foi uma das melhores experiências desse ano. Depois de me esbaldar com "Sinédoque, Nova York", e com "Palavra (en)cantada", me deparo com algo tão marcante quanto, e tão mais próximo de minha vidazinha pacata. Se se pensar que a trama se concentra na última hora que um casal tem pra passar junto antes que a mocinha suma pelo mundo, não há de se eperar muito. Que nada! O filme é isso, e é mais. É uma sucessão de diálogos fantásticos, plenamente interpretados, que fazem com que você transporte aquelas falas para a sua pouca história. Você, como eu, que tem entre dezesseis e trinta anos, deve reservar um horário (ou mais) pra espiar essa película precoce. Pra outras faixas etárias pode não soar tão "identitário", mas, ainda assim, há o que se aproveitar.

De uma relação amorosa nascida no colégio e que resistiu à universidade, o cara extrai apontamentos à beça. Sei lá: o que você faria nos últimos minutos que pudesse passar com a mulher que um dia foi a da sua vida? (mas só sexo?) E, porra, você sabe que ela não vai morrer, e que apenas quer ir embora pra algum lugar desconhecido por você. É, camarada, fugir. Não dá tempo pra entender as razões dela: há uma vida pra isso. Tem de se protagonizar mais alguns belos momentos. Olhar bem pra ela. Guardar seu cheiro nos pulmões. E esperar como quem aprecia os segundos. Há tanto disso no filme.

Esperam que eu fale de fotografia, de luzes, de trilha? Não falo tanto. Sou aficcionado por diálogos e, quando eles jorram com tamanha agudeza, me distraio do resto. Certo, a trilha também se afeiçoou aos meus ouvidos (não só por ter "Pois é" na cena final, viu!). Isso não se nega. Não se nega quando se a está procurando pela net. A fotografia veio de bandeja com a beleza que é o campus da Puc no Rio. Luz? Do dia, já que a galera filmou com câmera emprestada, que era devolvida, sem choro, às 17:00hs. Como o filme se passa no espaço de uma hora, tudo bem.

Não sou crítico de cinema, nem de bosta nenhuma. Tenho até certa dificuldade pra transmitir minhas sensações a ponto de convencer alguém a querer senti-las. Quando falo de algo, não sou convincente, e por vezes é melhor nem falar. No caso de hoje, pouco importa. Escrevo apenas para não ignorar esse impulso. Pra não trair a conversa que tive há pouco no metrô, com João e Raquel: "dá vontade de chegar em casa e escrever...", concordamos. Ainda brinquei, dizendo ser perigoso até ligar o computador. A tentação seria muita, como estava sendo até que eu a libertasse: deixo que goze por mim. Amanhã é o depois: o dia seguinte à transa. É o ir embora como se nada tão importante tivesse acontecido. É olhar pro texto e não sentir mais tanto tesão. Pensar: "foi tudo isso mesmo?".

Agora, abraçando meus sentidos como quem acabara de amá-los, solto sorrisos bobos, juro eternidade.

Paletó esvoaçante, "Magic Pie"** a todo volume, cabeça longe, longe...pessoas encenando minha hora e vez: tal foi o caminho da estação até aqui.

Hoje não devo mais nada a mim mesmo***.



www.apenasofimfilme.com.br

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* Los Hermanos (ainda!)
** Oasis (no filme tem uma cena em que o cara fala da fase em que pega bem gostar de rock inglês!)

***Nem devo nada à amiga que, ao dizer que não poderia ir conosco à pré-estréia, desejou (pediu!) que tivéssemos uma noite memorável!

9 comentários:

Michelli disse...

Valeu por não divulgar a pré-estréia do filme pra galera...nem queria mesmo!!! rsrsrsrs...

Esse "moleque"...já vi uma entrevista com ele na TV, agora não lembro se foi na Cultura, Globo ou MTV...rs, mas me lembro direitinho do jeitinho a lá Woody Allen, alguns bons anos mais jovens...rs

Bom, ficarei atenta à estréia, por meios próprios (rs), e quando a vida me permitir, irei assistir, com prazer!

Beijos!

Noubar Sarkissian Junior disse...

Ah, Mi, que mancada a minha!

Eu costumo divulgar pra galera, mas dessa vez falhei. Achei que pudessem não se empolgar tanto, ou que eu cairia naquela eventual chatice de lotar as caixas de email alheias.

Ok, não há desculpa.

O cara é genial mesmo. É tão baixinho quanto o Woody Allen, que por sinal é seu maior ídolo.

Como redenção, me disponho a ver o filme de novo quando você puder ir. (já prometi isso a outras pessoas, e é possível que eu o veja mais umas cinco vezes, feito aquelas moças românticas que batiam cartão nas sessões de "Titanic"!)

Valeu por sempre estar por aqui, Mi!

Beijos culpados,

Nouubar

Raquel disse...

Olha...lendo tal texto eu fiquei deveras arrependida de não ter sacrificado mais alguns minutos de sono para escrever, a primeira aula foi uma catástrofe mesmo!
Pensei nesse filme o dia inteiro, as falas ecoavam em minha mente e eu tentava parar de me comparar tanto com os personagens, mas é difícil não? Eles são tão próximos!
Adorei teu post,tem aquele êxtase de quando ficamos extremamente encantados por alguma arte! Ainda bem que você não preferiu dormir, afinal escrever quando os diálogos ecoam em nossa mente é fantástico! E isso está bem visível em seu texto!
Até mais moço!

Carol Kuk disse...

Gênio!
Tô quase deseperada pra ver esse filme!!!!!!!

Seu maldito... que inveja.

"Vai ver que você vai gostar!" - Ai... Que medo de me identificar plenamente com esse filme...


E nem vem que não tem. Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa, pô!

Beijos!

diri disse...

Noubar, é pouco dizer que partilho de todas as suas sensaçõe. E mais: não esperava muita coisa do filme, o que sempre torna a experiência interessante!
Mas o que me fez ir até o cinema foi o interesse que você e a minha irmã demonstraram.
Valeu por mais esse bom palpite!

Camila de Sá disse...

Noubaaar!

Mas você está conseguindo tornar memorável um filme que ainda nem assisti! Você sim, menino talentoso!

Queria ter ido com vocês na pré-estréia... confesso que menos pelo filme do que pela companhia de vocês, mas depois desse Post... ah, como quero assistir!! Dia 12 vai demorar pra chegar... a estréia, enfim! Ê! Mas tudo bem... até lá me contento em reler o "Olha a gente ali na telona!", que está transbordando emoçao!

E que surpresa: não acredito que o filme acaba com "Pois é"! Ouvi essa música do Los Hermanos a semana toda... o Rodolfo (amigo do Ricardo, sabe?) gravou na câmera e colocou no YouTube. Quando puder, dá uma conferida: http://www.youtube.com/watch?v=dwQ-wQv5UuI
Que sintonia engraçada!
E aposto que você também já fez belos arranjos para ela! Estou certa?

Bem, por enquanto é isso... contente pelos textos, pelo comentário, pela dica, por tudo.
Ah, como é bom apreciar seus impulsos, Noubar!

Beijo!

Noubar Sarkissian Junior disse...

Galerinha, que bacana!
Ver isso aqui mais movimentado dá gosto! Vamos lá;

Mi, de novo, foi mal! Devo-lhe essa.

Raquel, que bom agora podermos interagir sem o constrangimento de não saber um quem é o outro! rs. Acompanharei seus escritos! E, pois é (!), os diálogos são muito nossos pra sair tão rápido das lembranças: ainda bem! No final, quem acabou pagando por meus dias mal-dormidos foi minha aula de inglês (que está rolando agora), mas ela é bem menos importante do que as sensações que o filme e as interações de vocês estão me proporcionando. Aos pouquinhos, o filme vai saindo de cena e nós vamos entrando. De tema, ele passa a mote!

Carol, eu nunca conseguirei fazer tanta propaganda de um filme a ponto de me igualar ao seu martelande "Nem vem que não tem! ..." (promovendo o Simonal!). Uma semana ouvindo vc cantar isso foi o suficiente pra que eu ao menos fosse constatar que vc era louca. Acabei gostando e dividindo os versos com vc! hehe. "Nem de escada que o incêndio é no porão!"

João, se foi isso que o levou ao filme, as coisas estão melhorando! Meu estigma de "Sem critérios" está perdendo força! rs. Vira e mexe eu caio numas roubadas culturais, mas nada comparável às indicações premonitórias da Sarah. Qualquer dia eu conto disso aqui no blog: cada furada! Mas tá aí, já é recorrente a noção de que vamos a muitos lugares pelo bastar da companhia. eu, bebedor de leite com maracujá, curti muito aquele bar de jazz, e fui mais pela companhia.

Camila, camila! Lembre-se que o texto é passional, hein! Não crie tantas expectativas. Viu o trailer? Ele não consegue expressar a qualidade do filme, apesar de já ser bastante bom! Quanto à estréia, segue uma dica (a todos): hoje (sábado) rolarão mais duas sessões de pré-estréia. Uma no frei caneca às 24:00 hs e outra no HSBC às 23:20hs. Como veem, os horários são insólitos, e talvez vcs prefiram esperar a estréia na sexta que vem. Quando forem, hoje ou depois, me avisem!
Putz, e que sintonia bem-vinda! Eu adoro "Pois é" (com toda a suspeita que meu fanatismo gera), e a toco também. Infelizmente não consigo ouvir o Rodolfo (que, claro, sei quem é!) cantando, assim como ainda não ouvi vc cantando "lá": esse computador segue sem som; a pró-aluno segue fechada; e o trampo segue bloqueando as coisas. De qualquer forma, valeu pela dica, e saiba que ouvirei assim que puder!!! Pelo que me recordo dele cantando "Santa Chuva", ´já espero algo bom!

Beijos a todos que já comentaram e que ainda vão comentar. Sigamos!

Felipe disse...

Opa, o convite para próxima sessão parece bem tentador...

Não pude ir, embora fosse um dos privilegiados a ter o convite..rsrsrs
Esse sábado fica difícil nesse horário, mas no próximo vamos ver...
Flw Noubar

Carol Kuk disse...

Li de novo seu texto agora que eu vi o filme.

A melhor parte do filme é quando ele desenha um gelinho no pé da mocinha de palito que o ursinho carinhoso enfurecido está segurando.

Gênio.

"Guardar seu cheiro nos pulmões" ... ... ... ... ... Lindo.

Beijos