quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Eu escrevo e te conto o que eu vi" - I

a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5Ve0hlhNM6wV2pRek28u9c6J34n7hMMJCXGtyaMMQKCWO38ueiEJqsXp2wwh_SVywNYBlbtFVbh65dLPJGubDYaIKq0OQV6bEHuVcvenuHyxwedXVzljCSPlNeDZxF0YrWr-BnFy76uZT/s1600-h/macanudo.bmp"> ______________________________________________________

href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJTXeuHAQKuHKh5D8DXh-fSf5eXW0fJOvriSagtrnu9RvLP33FcBN6yRCxdFGFGreKY4Bn4CRIyRNaRHL_9HG4hQbUvUt2xT8IKO2KpwgOirOthij-nvtNrTlKwXoEBF9DDs88Dpx7G9Ug/s1600-h/GetAttachment3.jpg"> Em sentido inverso ao do último texto, iniciemos.


Não há especulações nem previsões. A imaginação não mais cria paisagens e momentos, mas os atesta e valoriza. Agora, é o após. Algumas expectativas ainda vivem, mas são outras, pertencentes a seus respectivos destinos e datas. Misturam-se e convivem com memórias recém-computadas. De Joanópolis, só há lembranças. E, por hora, não rasgarei elogios a tudo o que envolveu esses momentos, mas adianto que isso poderá ocorrer subitamente, feito a inevitabilidade de uma queda d'água*, ou de uma recordação autônoma, daquelas que geram sorrisos fáceis e elásticos, sem prévio aviso.




É até desconfortável falar bem das próprias experiências, mas não fiquemos com discursos modestos e anestésicos, que não é o dia nem o caso. Gostoso é aumentá-las, servindo de lupa a quem quiser (vi)vê-las; tornando-as belas aos olhos de quem não as sentiu. Ainda. Pela importância que pode ter o ainda. Pra romper preconceitos. Porque ir atrás de trilhas e cachoeiras sempre remete a passeio de índio, de hippie, de sem-praia. Eu mesmo concordo que as recompensas tradicionais dessas jornadas são discutíveis. Aquela leiga impressão de subir um baita morro, chegar lá em cima, e pensar: "e agora? Olhar e descer, pra não virar notícia de jornal de fim de tarde: 'grupo de amigos está perdido há 45 horas em mata fechada: família clama por notícias, e ameaça invadir'". Ou, mais cruelmente, alcançar uma parte nadável de uma cachoeira, e sentir: "está gelada pra caraca!"



Tudo isso soa incoerente, mas unicamente por ser sensível, e não calculável. Pensar num rio gelado não é atraente: assusta. Mergulhar nele depois de ter cansado e aquecido o corpo num desafio aos sedentários, é revigorante: conforta. (por mais que eu não quissesse cair no clichê do banho revigorante, aceitei. Aceite também, por solidariedade leitora). Retoma-se a humanidade arcaica, onde os sentidos não lutam contra a fumaça, o barulho, e contra a própria humanidade. Não lutam, deleitam-se. E é isso: trilhas não-monitoradas e pós-meditadas mais (+) banhos congelantes e precavidos.


Mas não só. Qualquer um imagina que uma viagem pode ser melhor quando se tem boas companhias. (Não, não há intenção de menosprezar os feitos individuais, mas nesse texto eles são inoportunos, porque distintos.) Alguém junto é o poder comentar. Poder e precisar opinar. Ceder. E a viagem é o além-destino. É todo o restante. Nasce na indicação de um dentista, num falar pra distrair. Cresce com os preparativos e com as expectativas dos amigos da moça que confiara no dentista. Lota caixas e caixas de emails. Desata. Segue sem trilha porque a seleção musical, tão esperada, falha. Recorremos às modas de viola: prazer turista e resignação urbanóide. E reagimos! Trilhas re-tocadas, no voz e violão, madrugador. E eu poderia falar do pedalinho, das comidas, do boiacross, do desfile de fuscas antigos, mas seria apelar. (nesse pré-final, fiquemos com mais uma foto, pra não cansar. Já cansou? Ingrato!)




Eis a foto. Clique sobre ela e garanto que lhe valerá a pena. Pois sim, agora é só. Nem há motivo pra muito alarde. Nem pra que você ache que o lugar é excepcional e insubstituível. Joanópolis é a cidade de João, mas poderíamos estar falando da cidade de José, de David, de ninguém...talvez fosse bacana também. Falo de relembrar o quanto a vida pode ser suficiente.


Imagine que eu tentei uma ode ao ar puro: é plausível. Imagine que eu propus uma fuga efêmera de nossas capitais mal-habitadas: é provável. Imagine que eu fiz um elogio às amizades que constróem paisagens queridas: terás razão. Assim como estarás certo se pensar que meu conceito de viagem se baseia na busca de mim mesmo. O sair pra prucurar algo interno. Revirar o mundo pra encontrar sua porta de entrada. Buscar uma identidade que se reflita em águas claras, correntes e geladas.


("Com cheiro de mato e barulhinho de cachoeira", terminemos.)

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"Luz, olha o horizonte que maravilha
Vem comigo buscar uma outra ilha
Sobe no meu convés e navega a esmo
Nesse navio que sai em busca de si mesmo"

(Fernando Chuí - Uma outra ilha, do álbum Nunca vi mandacaru)

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*Quem esteve na trilha sabe muito bem que eu poderia falar da "inevitabilidade" dos tombos de um de nossos integrantes (David), que escorregava a cada metro de mato.

Créditos: a tirinha de abertura já está devidamente creditada, mas vale uma referência à Sarah, que ontem me apresentou o Liniers (Para quem gostou, mais: www.macanudoliniers.blogspot.com ). Ela também foi quem me enviou essas fotos, a título de adiantamento, pra que eu pudesse cumprir uns prazos. As autorias das fotos são diversas, mas têm seus autores retratados noutras. Uma saudação à galera dessa viagem! (Ju, Sarah, David, João e Gustavo: as pedras mudas!)

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito oportuno, Noubar. Quisera eu ter alma para organizar tudo o que se vive em palavras.

diri disse...

Ahhhh a viagem! como é bom cair fora um pouco, não? onde é esse lugar aí? as fotos estão bonitas, parece ser muito gostoso de se passear nessas trilhas.
bom, o importante é que você mais vez não apenas viu e ouviu. registrou também. no fim das contas, caríssimo, esses seus escritos serão como aquela caixa de tranqueiras que você guarda no maleiro: ajudarão a dar sentido a uma época, a pessoas, a relações.
até eu que não sou lá o melhor exemplo de atltetismo fiquei no pique de fazer essa trilha! quando você irá de novo?