Conhecem alguma droga, sonífera, para gatos? Receitem. O problema se dá à noite. Os felinos, vagabundos que são, dormem durante todo o dia (em minha cama, por sinal). São provocadores silenciosos. Quando peço-lhes licença, e deito, a fanfarra inicia seus barulhos descompassados (, à bandinha do Chaves). Resignados, descem da cama e começam a saltar feito sapos sem direção definida. Reitero: meus gatos não correm, saltitam. Ademais, devem ser parcialmente cegos. Enquanto brincam, se chocam amiúde com todas as portas do guarda-roupas. Tentem imaginar os sustos que esses estampidos (gato + madeira) me dão.
Não migram aos outros cômodos da casa. Permanecem, gatunos, em meu quarto. Como lá não há porta, é impossível deixá-los pra fora. Até tento dormir, mas eles insistem em puxar meu edredon; em desafiar a resistência da madeira; e em usar meu indefeso violão como elemento cenográfico de suas travessuras.
Os policiais ocupam minha universidade, e os gatos ocupam meu dormitório. Impostores! Aos policiais, gaiatos, eu devo oferecer outro texto. Pros gatos, foras-da-lei, ofereço esse mesmo. Exijo que saiam de meus poucos metros quadrados! Não há mais carinhos nem tentativas de negociação. Voltarei para casa acompanhado de dois cães famintos, ou pedirei socorro ao meu amigo caçador de gatos. Pois sim, um dos blogueiros indicados aí à esquerda de sua tela, é um exímio estrategista. Conhece métodos fulminantes de se abater um gato indesejado. É temido pelos vizinhos. É letal. Pedirei uma força. Pedirei que inclua minha causa nas pautas de nosso indignado momento.
Ei! Tenho coração. Tenho dó. E tenho sono. Tenho a prepotência de priorizar minha espécie, mas me compadeci quando o Bidu, outro gato, morreu*. Minha vó ficou tão triste, mas tão triste, que eu, ateu que sou, rezei pelo bichinho. Agora a velhinha não quer mais conversa com os gatos. Não quer se apegar novamente, diz. Sem outra opção, mais dedicada e/ou presente, eles vêm a mim. Vêm tolos, menores, e soltam aquele olhar de cachorro molhado (e cego).
Abro a torneira do banheiro pra que bebam água (pois preferem gelada); permito que as namoradas, ao fotografá-los, chamem-nos fofos, gatinhos. Intervenho quando julgo estarem brigando. Faço tudo que um bom dono faria. Pra não macular a honra dos resmungões, ameaço um ou outro pontapé, estímulo vôos de uma cama à outra, mas não mais. Marco território, só.
Falo, falo, mas sei que não promoveria churrascadas com suas carnes.
Peço que os camaradas policiais saiam do campus e voltem a patrulhar a casa de nossos nobres estudantes (onde dividirão a tarefa com grandes esquemas de segurança). Peço que a reitora, esta sim, saia sem ressalvas. Sem saia nem tridente.
E convido os gatos, melhores amigos do homem, a ficarem mais um pouco.
________________________________________________________
*(seu nome de batismo era "Zizu", mas minha vó, por não se dar bem com a pronúncia, logo desvirtuou para "Bidu", algo mais cachorro.)
P.S.: o texto foi escrito há uma semana, mas só digitado agora: a polícia já deixou o campus, e os gatos seguem por aqui.
P.S.2: eles aprendem.