Ontem tive uma aula inesperada. Ela me renderá alguns dias de empolgação nos estudos. Quiçá mais tempo. Necessário mas não suficiente, como é de costume.
O que mais me instigou, no entanto, foi a reflexão que ela me proporcionou. Uma sensação de que meus pensamentos não fogem muito do convencional quando se trata de análises e julgamentos alheios. Falo da fofoca que se dá em nossa mente em algumas situações cotidianas: quando vemos alguma pessoa fazer algo que consideramos fútil; quando ouvimos uma conversa no ônibus e é preciso engolir um sorriso esnobe, involuntário; ou em quaisquer outros momentos propícios ao ato de compararnos aos que nos cercam. Isso acontece comigo o tempo todo (pensamentos como:"Que bosta esse cara tá falando!" "Ah, ninguém pode ter prazer em fazer musculação, em ver novela..." "Porra, será que ele pensa que casar virgem é realmente justificável? Senhor!"). E é até meio cruel, além de obviamente arbitrário. Apesar de parecer desleal, é inegavelmente prazeroso procurar defeitos nas pessoas. Defeitos que não julgamos possuir. De qualquer modo, não sou "do mal". Só começo a considerar-me mais um na tribo dos juízes sócio-factuais. Não me tome por arrogante, prepotente, convencido, etc. Ou tome, já que estamos falando de comparãções e julgamentos.
O catalisador desse impulso comparativo é o problema de não termos muitas oportunidades de conhecer profundamente as pessoas, acrescido do fato de pensarmos saber tudo sobre nós mesmos. Neste jogo desigual, optamos pela auto-confiança. Massageamos nosso ego para a vida fazer mais sentido. Talvez para justificar nossas escolhas. Para mascarar nossa mediocridade.
Foi na aula de ontem, ministrada pelo Flávio, que adotei a hipótese de que pensar assim é humano. Pré-julgar é nosso demais. Diria que quase uma neceessidade fisiológica. De auto-ajuda. Uma lisonja interior. Desqualificar o outro acaba sendo uma boa maneira de ornar a si próprio: uma dose diária de narcisismo.