domingo, 19 de julho de 2009

Qual mais?

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Ressalvas feitas, voltemos ao meu mundinho.

Preciso falar de uns rótulos que andam me atribuindo. Estou aí, mesmo pra isso, mas devo discordar de umas coisas, e explicar outras.

De cara, rejeito o título de tiozão. Pode? Pois sim, há quem diga. Uma amiga de um amigo meu, que mais tarde teria suas opinões avalizadas por outra menina, disse que eu tenho um baita "pique de tio". Comentário absurdo. Essas moças de dezoito estão sem muitas referências. Necessitam de uma reciclagem ótica, no mínimo. Noutros tempos, em que minha barba poderia sugerir um aspecto cansado, estragado, tudo bem. Hoje, com o asseio facial que o mundo corporativo exige, ando com cara de menino. Nem os trajes sociais poderiam justificar classificação tão inadequada. Mal entrei na vida adulta. Peço calma. Tenho de resistir ao menos a esse arquétipo. Tiozão, não. Próximo.

Que não venham com essa de que sou fresco pra comer. Há critérios, e eu os tenho. Molestam minha paciência com chacotas motivadas por minhas caretas-pós-anúncio-de-que-terá-berinjela-no-almoço. Berinjela é o de menos. Assustadoras mesmo são as bem-vistas escarola e abobrinha. Quanto às frutas, só não gosto das que quase todos não gostam: manga, pêssego (aqueles em calda é sacanagem), melão, mamão, entre outras. Só por isso, já me levam a mal. Quando entramos no terreno das sopas, dos caldinhos (verdes, de feijão, etc) e das canjicas, prefiro nem discutir. Vez ou outra é menos trabalhoso comer essas coisas cruéis do que ter de ficar inventando algum trauma de infância para recusar cada prato indesejado. Essa dos traumas eu deixo pro café: digo que meu avô derrubou em mim ou que café me lembra escravidão. Querem saber? O caso do café merece um parágrafo exclusivo.

Falo com segurança sobre o café, pois acabo de ler um texto do Antonio Prata em que ele comenta o mesmo problema: tem dificuldades de sociabilidade por não tomar café. Também posso desabafar. É algo quase ritualístico. As pessoas oferecem café como quem se apresenta a alguém. É um dos melhores primeiros contatos. Quem não sabe lidar com o "tempo pro cafezinho", que tome bastante água com açúcar. Faz sentido zombarem por eu optar por um Ninho Soleil ou um Yacult depois do almoço, ao invés de uma xícara do líquido energético? Não faz.

Como último de hoje, repudio o rótulo de nerd. Esse é mais circuscrito, mais zona leste. Entre meus parentes, amigos de infância, e vizinhos, sou tido como CDF. Isso soa de modo até bizarro, penso, quando alguém da faculdade lê. Lá, sou o autêntico picareta; aqui, estudo além da conta. É meio desconfortável ficar explicando pros tios o porquê de eu estar na graduação há cinco anos, e perigar ficar mais um. Como acham que sou um exemplo de dedicação, têm difuldades em entender a lentidão de minha formação, mas se conformam em dizer, sem muita base, que na usp o ensino é mais "puxado"(termo de tio, não? Não olhe pra mim, engraçadinho.). Acrescento o obstáculo que é o trabalho, a distância, e logo restabeleço minha imagem. Eu, o garoto da família que deveria usar óculos-fundo-de-garrafa e suspensório, e que possivelmente é fanático por RPG e xadrez. Leio pouco, e o que há dentro de meus livros envelhecidos são pornografia, tiras humorísticas, e figuras. Se letras, em fonte grande, gastona. Nada de filosofia ou outras leituras amaldiçoadas.

E saibam que, quando esse texto foi apontado por meus poucos pensamentos, havia outro rótulo, quase que principal. Ele faria a grande dupla com o do "pique de tiozãõ", mas escapou de minha memória por algum motivo desconhecido. Fiquei com esses três, e dei mais espaço ao do café. O outro, tão liso e indolente, não merece a importância que eu tinha lhe dado. Vejam, através desse esquecimento, o quão indiferente eu me posto aos estigmas que me oferecem. Descontraio, levo na boa. Na zl, levo "de boa", na maloqueiragem do falar.

As moças hão de ver o garoto que sou; a Carol descobrirá que muita gente confunde nozes com pedaços de madeira, e não come; pessoas gentis deixarão de me oferecer cafezinhos por aí; e meus colegas de faculdade irão rever seus conceitos, impressionados com minha capacidade de sustentar rótulos ginasiais. Seguiremos nessa selvageria classificatória, que é bacana. Cada um que se explique depois, ou que acate (rótulo de pegador é pra lá de bem-vindo. Um amigo meu adotou o "sobrenome" de "jumentinho" sem maiores problemas).

Linhas menos universais ainda, né?

Ao menos, que tudo esteja esclarecido.




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Imagem meramente ilustrativa. Não há tristeza no momento em que ela fora feita, só oportunismo fotográfico. Agora, há menos tristeza ainda!

6 comentários:

Sarah Lee disse...

Quais mais?

Que tal homem-de-pouca-fé?

Tocador?
Esse é ambíguo, né?

Rato gordo?

Os rótulos servem pra isso mesmo, pra serem concordados e discordados, atribuídos e adotados.
E servem pra apresentar.
Por onde se começa, além do café-apresentação?
Pelos famigerados rótulos.
Nem que seja pra puxar conversa, eles servem.
Dão forma, deformam, mas são eles que estão na superfície.

E se é pra nos atermos à forma, vale dizer que a dos textos pode compensar a (pretensa) falta de universalidade dos relatos.
Esse post, por exemplo, é cheio de humor, é leve, faz com que deslizemos (nos deliciemos?) até o final.
Os seus protestos podem ressoar em ouvidos que não te conhecem, assim como os do Antônio Prata fizeram em vc!
E em mim também, vide o ótimo texto dele sobre os cachorros!

O moço do texto é um jovem adulto, que foge da crueldade dos pós-adolescentes (isso está sendo escrito por alguém, que, da altura do seu quase um quarto de século, já ouviu “Tia, devolve a bola” - e claro, com toda classe, fez um gesto obsceno pra garotada e chutou a pelota pra longe), come apenas frutas cítricas e tem um paladar... hummm... restritivo =)

Veja só como vc sai etiquetado do texto que buscava desetiquetar!
O que resta, então, é escolher cores bem bonitas!

Beijos

Felipe disse...

Sei como é o de nerd!!!

Para mim soa bem agradável ouvir isso da minha família, ou mesmo pros mais distantes que mal sabem da minha vida, ao descobrirem que estudo na USP abrem a boca de um misto de admiração e surpresa.

Uso para levantar meu ego e achar que posso ser bem melhor...rsrsrs

Quanto ao café, que dizer? Também não era um adepto, porém as poucas horas de sono me obrigam a tomar cada vez mais desse líquido amargo, porém de eficácia garantida. Como qualquer droga, exige doses crescentes para se obter o mesmo resultado.

Mas tu é um fresco mesmo, hein? Não come quase nada, rsr.. Só ponho de lado quando o assunto é nata de leite. Meu Deus como me angústia só de ver alguém aquele troço asqueroso...

Abraços

Anônimo disse...

esse post é muito bom. Aliás, esse blog é um exemplo, ando indicando para alguns alunos rsrsrsrsr
até mais

Newton

Anônimo disse...

Nubita,
Sem querer ser "a chata", mas quem disse que quase ninguém gosta de mamão e manga??? Como assim??? Faz uma enquete com os feirantes e veja quais frutas saem mais!!!
Bom, quem tem certa restrição alimentar tem um rótulo, e quem não tem, tem tb!!! Vide o meu, "saco sem fundo", apelido carinho que a dona Georgia deu para mim! Dai eu tb escuto uns, "ai, vc come jiló! arght!!! e quiabo!? blékati!"...é vida é assim mesmo...
Bom, pra mim, quem toca violão até às 4h da madruga super empolgado, não pode ser chamado de tiozão! Mas quem tira mais que 9 em prova de faculdade, é nerd! rsrsrs, bricadeira! (só a parte do nerd, rs)
Beijos!
Mi
Beijos!

Carol Kuk disse...

UNIVERSAL MESMO

e vc, é daqueles muleques que só falam 'rapaz'... affffe.

E pior que o rótulo, é tentar argumentar o porquê. Não comer amêndoas porque parece casca de árvore??? Sem comentários...

Beijão sócio.

Noubar Sarkissian Junior disse...

Sarinha, minha moça... Rato gordo é o Gustavo, e eu diria que sou homem-de-nenhuma-fé.
Agora, seus hábitos de anciã permitem os rótulos de tia, vai...

Ruivo, seus óculos novos caracterizam o jeito nerd de ser. E ainda tentarei resistir, sonâmbulo, à mágica do café.

Mi, eu quis mesmo foi provocar! rs. Concordo que essas não sejam consensualmente as piores frutas, e só não entendo o porquê! O resto é generosidade sua, e nas provas não costumo me dar bem não, viu!?

Carol, parece ou não parece? Nozes, amêndoas, e essas coisas todas similares: só se come dentro do chocolate. E "rapaz" é normal, ué! rs

Beijos!