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Ressalvas feitas, voltemos ao meu mundinho.
Preciso falar de uns rótulos que andam me atribuindo. Estou aí, mesmo pra isso, mas devo discordar de umas coisas, e explicar outras.
De cara, rejeito o título de tiozão. Pode? Pois sim, há quem diga. Uma amiga de um amigo meu, que mais tarde teria suas opinões avalizadas por outra menina, disse que eu tenho um baita "pique de tio". Comentário absurdo. Essas moças de dezoito estão sem muitas referências. Necessitam de uma reciclagem ótica, no mínimo. Noutros tempos, em que minha barba poderia sugerir um aspecto cansado, estragado, tudo bem. Hoje, com o asseio facial que o mundo corporativo exige, ando com cara de menino. Nem os trajes sociais poderiam justificar classificação tão inadequada. Mal entrei na vida adulta. Peço calma. Tenho de resistir ao menos a esse arquétipo. Tiozão, não. Próximo.
Que não venham com essa de que sou fresco pra comer. Há critérios, e eu os tenho. Molestam minha paciência com chacotas motivadas por minhas caretas-pós-anúncio-de-que-terá-berinjela-no-almoço. Berinjela é o de menos. Assustadoras mesmo são as bem-vistas escarola e abobrinha. Quanto às frutas, só não gosto das que quase todos não gostam: manga, pêssego (aqueles em calda é sacanagem), melão, mamão, entre outras. Só por isso, já me levam a mal. Quando entramos no terreno das sopas, dos caldinhos (verdes, de feijão, etc) e das canjicas, prefiro nem discutir. Vez ou outra é menos trabalhoso comer essas coisas cruéis do que ter de ficar inventando algum trauma de infância para recusar cada prato indesejado. Essa dos traumas eu deixo pro café: digo que meu avô derrubou em mim ou que café me lembra escravidão. Querem saber? O caso do café merece um parágrafo exclusivo.
Falo com segurança sobre o café, pois acabo de ler um texto do Antonio Prata em que ele comenta o mesmo problema: tem dificuldades de sociabilidade por não tomar café. Também posso desabafar. É algo quase ritualístico. As pessoas oferecem café como quem se apresenta a alguém. É um dos melhores primeiros contatos. Quem não sabe lidar com o "tempo pro cafezinho", que tome bastante água com açúcar. Faz sentido zombarem por eu optar por um Ninho Soleil ou um Yacult depois do almoço, ao invés de uma xícara do líquido energético? Não faz.
Como último de hoje, repudio o rótulo de nerd. Esse é mais circuscrito, mais zona leste. Entre meus parentes, amigos de infância, e vizinhos, sou tido como CDF. Isso soa de modo até bizarro, penso, quando alguém da faculdade lê. Lá, sou o autêntico picareta; aqui, estudo além da conta. É meio desconfortável ficar explicando pros tios o porquê de eu estar na graduação há cinco anos, e perigar ficar mais um. Como acham que sou um exemplo de dedicação, têm difuldades em entender a lentidão de minha formação, mas se conformam em dizer, sem muita base, que na usp o ensino é mais "puxado"(termo de tio, não? Não olhe pra mim, engraçadinho.). Acrescento o obstáculo que é o trabalho, a distância, e logo restabeleço minha imagem. Eu, o garoto da família que deveria usar óculos-fundo-de-garrafa e suspensório, e que possivelmente é fanático por RPG e xadrez. Leio pouco, e o que há dentro de meus livros envelhecidos são pornografia, tiras humorísticas, e figuras. Se letras, em fonte grande, gastona. Nada de filosofia ou outras leituras amaldiçoadas.
E saibam que, quando esse texto foi apontado por meus poucos pensamentos, havia outro rótulo, quase que principal. Ele faria a grande dupla com o do "pique de tiozãõ", mas escapou de minha memória por algum motivo desconhecido. Fiquei com esses três, e dei mais espaço ao do café. O outro, tão liso e indolente, não merece a importância que eu tinha lhe dado. Vejam, através desse esquecimento, o quão indiferente eu me posto aos estigmas que me oferecem. Descontraio, levo na boa. Na zl, levo "de boa", na maloqueiragem do falar.
As moças hão de ver o garoto que sou; a Carol descobrirá que muita gente confunde nozes com pedaços de madeira, e não come; pessoas gentis deixarão de me oferecer cafezinhos por aí; e meus colegas de faculdade irão rever seus conceitos, impressionados com minha capacidade de sustentar rótulos ginasiais. Seguiremos nessa selvageria classificatória, que é bacana. Cada um que se explique depois, ou que acate (rótulo de pegador é pra lá de bem-vindo. Um amigo meu adotou o "sobrenome" de "jumentinho" sem maiores problemas).
Linhas menos universais ainda, né?
Ao menos, que tudo esteja esclarecido.
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Imagem meramente ilustrativa. Não há tristeza no momento em que ela fora feita, só oportunismo fotográfico. Agora, há menos tristeza ainda!