Adentrei noutro mundo: Caetano estava ali. Memo. A dois palmos. Ao alcance de um tapão. Onde deveria morar o inimigo. E era o cara, desblindado, mais Carlinhos Nader, mais Antonio Cícero. Vá lá: compositor; cineasta; e poeta: todos bobos, rindo juntos, dando palmas. Na ordem em que você quiser. Deles, Do Dito Depois: Da Desordem danada! Filmes bons.
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("Por que ele está escrevendo desse jeito?"*)
Mas tá: os vídeos valeram, só que eu fui até lá pra ver Caitâno. Sabe essas palestras que ambicionam "discutir" o filme? Ia rolar. Os três estavam intimados a falar. Eu, a ouvir. Agora, com aquela muganga toda; aquele jeito tranquilo e gostoso de ser baiano, nosso tropicalista não tem tanto tato pra falar. Tagarela fraco. Descumpre seu tempo, não conclui, repete introduções. Quem não o conhece, abdica. Quem já ouviu falar, teima e fica. Quem já o idolatra, torce ripa**: "vamos, meu rei, desembush!, desenrole, clareie o dizer".
Eu? Nem nada não. Gosto o bastante pra ir, mas não o suficiente pra torcer por ele. Se mandarem chamar, eu vou. Sou desses, tenazes pressas coisas: qualquer dia se encontra um mote. Entende, o buscar pretextos? Meio que caçá-los em selvas mais abundantes. Sim, sim: volto. Cae ta n o ia no seu ritmo, parcelado. Eu? encantado desde o caminho. Falasse o que fosse. Xingasse minha mãe. Desimporta: eu queria era o esoterismo de sua presença. Cheirar o mesmo ar. Encenar no inconsciente de um bom criador. Mas não só. Paradoxal que sou, meto o pau nessa putaria de ficar o tempo todo com a câmera na mão, mas, vez ou outra, até gostaria de uma foto ao lado dessa gente que nos nutre de impulsos. Vai ver, fui pra isso, ó.
Cheguei.
Na foto. Ou no autógrafo, que também registra. Ele ali, na cinemateca erma de uma quarta-feira. Mal divulgado. Acessível, então. Duas dezenas de pessoas, talvez. Quem quis, quase trocou msn. De riso fácil, o coroa. Humano, na média, e mais que eu. Fotografável, que é o tema. Assaltei os bolsos e lembrei que meu celular não manda dessas. Nem câmera digital eu tinha ali. Circundavam o lugar uns fotógrafos de jornal, outros de Jardins. Praqueles, era pedir na camaradagem: até comprar. Nestes, bastava chegar e puxar assunto: "a fotografia ousada de Carlos Nader; o cosmopolitismo de Caetano; a __________ de Antonio Cícero; e a modernidade, o Obama, a banana, melância, moranguinho..."
Melhor não, achei. Uma foto não valeria essa sucessão de constrangimentos. Certo, mas e o autógrafo? Ah, bandido! Esse era só pedir: uma vergonha só. Depois, sair contando: "o caetano? amigo meu...". Eu, meio intelectual, meio de esquerda, até estava lendo um "Folha Explica Caetano Veloso" (se eu fosse intelectual por inteiro, entenderia sozinho: sim, também foi o que pensei agora. Ora, e se eu fosse de esquerda por inteiro? aí, o sinistro! o sem-destreza!), e era só aproveitar e pedir a assinatura ali mesmo, na página de rosto. Folha explica, e caetano atesta.
Sem suspense, soa assim: saí só, sem sombra sequer. Nem foto, nem letras. Nem o tapa que eu tive a chance de dar. Ele voou da Bahia exlusivamente praquilo. Pro tapa não; pra palestra. Pouco pôde palavrear. Perdeu pontos com a paulistanada, perdeu a oportunidade de autografar meu livro, e de figurar no meu álbum do orkut. Com uma legendazinha e tudo: aspas, abraço e sorriso falsos, produção de desprezo, inveja e quais-quais-quais. Nem somos amigos, mas eu saio na vantagem. Contento-me com o que dele ouço e leio; com o que vejo mal-falarem; com minha preguiça (de) e incapacidade pra debater sua obra, e a solicitude pra recebê-la.
Mãe de Carlos Nader (autor dos filmes exibidos e tema da mesa), na última das intervenções da platéia:
-Filho, por que você não faz uma comédia romântica?!
Gargalhadas e aplausos inacadêmicos!
Tanto - tempo - titubeio - torno - tudo - tão - tolo... quanto artigos e preposições.
(P.S. dentro do texto)
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* Porque tem uns caras que fazem isso e me agradam. Eu copio, até firmar.
** Baita tesão por colocar "Quem já o idolatra, siririca!"; pra ceder à insinuação silábica, e gozar de (em!) minha rima e simetria pedantes. Se o lance é registrar, que fique também a heresia incompleta, quase só pensada.
No normal, a orientação: trata-se de um texto motivado por rabiscos que fiz nesse dia e situação descritos. Rabiscos, se mantidos, podem mesmo ser ininteligíveis. Local: Cinemateca Brasileira (antes de voltar a esse blog, passe lá). Vídeos: uns curtas bem bacanas do Carlos Nader. Depois: mesa de debates com Carlos, Caetano e Antonio Cicero. Avaliação: satisfatório. Quando: mês passado.
Ok, o tempo acabou. Ronaldo em campo: por duas horas, sou corintiano.