terça-feira, 18 de novembro de 2008

Os bancos da faculdade de história





Quem viu aquele par de ótimos filmes: "O Declínio do Império Americano" e "As invasões bárbaras"? São fantásticos, mas essa impressão cada um teve ou terá ao assisti-lo: não cabem aqui meus recônditos elogios. Só uso-os como ensejo pra falar sobre o destino das amizades. O segundo dos filmes é gravado 17 anos depois do primeiro, com os mesmos atores/personagens. Tenta reconstituir os laços de um grupo de amigos que foi separado pelas tais das escolhas que a vida nos impõe. "As invasões bárbaras" é encontro de memórias, é nostalgia, é o lembrar por anedotas. Voltar ao passado pra fazê-lo melhor.



Isso tudo pra falar de um comentário que o miragaia fez há um tempinho. Ele falou sobre o futuro das reuniões despojadas lá nos bancos da faculdade de história (e que podem simbolizar as reuniões nos outros tantos prédios de tantas outras faculdades). Sobre aquele instinto adquirido de, ao chegar à faculdade, olhar pros cantos do prédio e procurar algum amigo. Por vontade de conversar sobre coisas menores: subtrair um pouco da seriedade implícita no lugar. A academia. Esse nome medonho! Como se passássemos por um treinamento mental. Se isso existe, meu caráter picareta pode ser comparado aos atletas que tomam anabolizantes. Aparentemente, tenho treinado, mas, de verdade, é só desleixo. (Dispenso os alertas de que estou usando dinheiro público e devo me esforçar ao máximo). Minha academia também é ouvir as canalhices de uns, as posições reaças ou inconformadas de outros, as indecisões, os machismos, as classificações de meu gosto musical (de corno), e os projetos pro fim de semana. É o além-aula. Calma: estudar é bacana pra caramba também! Mas pode ser feito em casa ou qualquer outro lugar. O que dá sentido à faculdade são as pessoas. Afinidades. Quanto mais afastado delas, mais insípido fica o ambiente universitário.




Os bancos da história, por isso, confortam. O que será deles daqui uns anos? (pra não dizer de nós) Outros grupos de amigos farão daqueles lugares seu ponto de encontro. Nosso espaço vê o tempo prevalecer. A proximidade da formação assusta. Volta-se às fases em que escolhas tem de ser feitas em detrimento de outras. Há de se pensar no futuro novamente. O discurso "de velho" já não é tão longínquo assim. Responsabilidades começam a ultrapassar os prazeres. Amigos se formando, indo trabalhar. Outros projetando mestrado ou vislumbrando outra graduação. Uns até planejando casamento. A realidade é inexorável: um dia nos alcança. Anuncia a necessidade de se aproveitar um pouco melhor as coisas. Talvez eu sinta mais falta da faculdade do que eu imaginei no meu primeiro semestre. Vivo um caminho inverso. Hoje estudo mais, tenho mais contatos e desejo estar por lá. Vejo bons motivos. Empolgo-me com a alegria da turma da dani, que vive uma fase de reconhecimento e ainda não precisa sofrer algumas pressões.



O miragaia levantou a possibilidade de não nos afastarmos definitivamente. De simular novos bancos da história por aí. Algumas ferramentas que poderiam atenuar a distância que naturalmente surgirá. Os encontros físicos deverão mesmo ser cada vez mais raros. Compromissos, outras pessoas pra rever, preguiça. Ele falou do blog, mas não sei quanto tempo isso aqui irá durar. As pessoas vão perdendo a paciência. Pra algumas, só o email de divulgação de um novo texto já deve causar repúdio. Este espaço serve bastante pra quem busca saber um pouco mais de minhas opiniões, e me ajuda mais ainda a notar semelhanças. As omissões dizem muito também. O mais misterioso é imaginar alguém que passa por aqui "por acaso" e não se manifesta pela impressão de que os textos são muito restritos a um grupo.


O provável, como eu disse e é óbvio, é que nossas relações se tornem cada vez mais superficiais e que grupos cada vez menores mantenham contato. Nossos amigos de colegial já não são tantos (Ah, os tempos de ETE!); os de infância quase sumiram (o futebol no quintal de casa). No entanto, não dá pra ser tão frio com essas coisas. Sempre é bom pensar que pode ser diferente. Resistir à dureza da vida. Até pra não antecipar decepções, pra não permitir que as amizades prescrevam subitamente. Pra ficar imaginando qual será a galera que comporá a minha edição de "Invasões Bárbaras". Aqueles que, mesmo depois de muito tempo, sentirão prazer em estar ao meu lado pra rememorar algo. Falar de qualquer coisa passada. Enganar o futuro enquanto ele não chega.



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Legendas (como se fossem)

1) Uma das últimas cenas de "As invasões Bárbaras", quando os personagens se encontram pra relembrar.

2) Fachada do prédio de História e Geografia - FFLCH

3) é... não dá pra perceber que eu quis desfocar meu rosto, pra tentar dar a idéia de envelhecimento,né?rs... bom, mas é isso!

P.S.: além dos créditos ao miragaia, devo dizer que o gustavo também estimulou esse "desabafo". Ele é chato: cobrou referências e fica aqui, do meu lado, alertando pro tamanho do texto, que pode fazer com que algumas pessoas desistam de ler.

19 comentários:

Anônimo disse...

Por favor, ao referenciar-me, favor usar: TURRA, Gustavo M.. Hehhehe...E como eu estou do seu lado se VC ESTÁ EM CASA ESCREVENDO, E NÃO NO TRABALHO PICARETIANDO????hauhauuahauhauhuaa

Anônimo disse...

muito obrigado Noubar, pelas referencias. Escrevi aquilo porque ja passei por essas experiencias de rupturas e perda de amigos pelo tempo e pelas obrigações. Essa apreensão pelo que vai vir é comum a nos todos, e ainda bem que pode ser compartilhada, tanto nesse banco virtual como nos reais bancos da historia-usp. ainda tenho muito a comentar sobre isso, mas isso depois, senão o comentario ficara maior que o texto a ser comentado

Anônimo disse...

muito triste em pensar nisso
sugiro nao sofrermos por antecipação
Meu ONTEM eu tava pensando nisso!!
tava pensando que um dia o banco vai acabar assim como acabou o patio da escola, a escadaria do colegio e tmb acabou o parquinho da creche ( onde perdi o dedo)
devemos ver o lado bom da coisa como o nubita disse. melhor sentirmos saudades de coisas boas que nunca ter vivido
Eu garanto que vou sentir saudades

Noubar Sarkissian Junior disse...

hehe! faltou assinar...(bom, porque pareceu que o "anonimato" foi involuntário! rs)
referências "corrigidas" (já q falamos de academia):

TURRA, Gustavo Picaretovic. in "Sr. Molina e outras histórias", Editora Fantasma, Boa Vista, 1789.

MIRAGAIA, Erick Quase Nada. in "O dia em que faltei ao jogo da Falange", Editora Ausência, jacareí, 2010.

Dani disse...

Muiiito legal!
mais ainda pelas refrências aos filmes! (sempre!)
nem sei mais o que dizer dos seus textos...parece que o tamanho deles é tão natural! as palavras fluem de um jeito perfeito!
escritor!!!!

Unknown disse...

Agente podia fazer uma confraternização de fim de ano...ou algo assim...


Uhm...numa pizzaria!


Bjos

Coa

Camila de Sá disse...

olá, noubar!
concordo com a dani, tem uma fluidez natural por aqui.
está uma delícia de texto mesmo...

Suas palavras se aproximaram muito do que sinto em relação ao assunto.
E acho que o conhecimento da transitoriedade dos vínculos afetivos quando se tratam de amigos de colégio, de faculdade, não precisa diminuir a felicidade talvez passageira que essas convivências nos trazem!
E, apesar dos outros que virão [na faculdade, por exemplo] utilizarem o cenário da nossa peça favorita - aquela em que nós mesmo atuamos! - e talvez rolar um ciumizinho daquilo que já foi nosso, hehe, nossa peça já terá sido um sucesso e nós, como atores e como platéia, poderemos fazer outras peças com outros cenários, talvez com outro elenco, e aplaudir com empolgação nossos amigos que já estarão em outras peças.

pena nao ter assistido os filmes de que vc falou, mas, assim que eu puder, vou correndo assistir!

parabéns pelo texto!

Unknown disse...

Nubita!!! Que bunitinho...

E olha esse Maurício comentando sem assinar! hahaha.

...

Não sei bem o que comentar. Dói só de pensar. Parece que o 'nosso' tempo é curto, né? Parece que cada dia que passa é um dia a menos. Sei lá.

Beijos a todos dos bancos da faculdade.

Carol Kuk

Noubar Sarkissian Junior disse...

dani, dani: seus exageros! rs

"douglas", topo fácil a idéia da pizza, sempre. e valeu pela frequência!

Camila, valeu de novo por suas metáforas teatrais! Vc sabe quão importantes são suas palavras! (aliás, quem estiver lendo isso, corra pro blog da camila!)
hehe, e nem é um cíume, daqueles mesmo! é mais pelo simbolismo...pelo afeto às pessoas que neles encontro.

carol, bem que eu desconfiei que era o Maurício com essa história "´presidencial"! e meu tempo deve demorar um pouco mais lá na facul, já que vcs estão se formando e eu ainda tenho de cursar matérias de primeiro ano! rs

diri disse...

Uau, Noubarrrr! Que emocionante. Eu posso imaginar a sua agonia. Nas última semanas de aula do meu colégio, em São José, escrevi um realto, que entitulei "Relatos do Fim do Bilac". A última frase dele é assim: "e ela [a escola] nunca foi tão linda". Porque é isso que sentimos memso. Também tenho sentido mais falta da faculdade e tenho procurado ser mais assíduo. Acho, contudo, que o seu texto me elucidou a entender por que. Ora, pois tá acabando! Mas ainda vejo muitos amigos de escola então, caríssimo, a naturalidade vai prevalecer sobre nossos medos. O que não os tona menos legítimos, penso eu.

Saudades de ti, rapaz. Vamos um dia marcar finalmente um Noitão para ir?

João

Unknown disse...

É o diabo né... tudo só adquire sentido com a proximidade do vazio... e eu sou ruim demais (no sentido de desqualificado) pra aproveitar a vida como se isso fosse natural e tudo o mais.
Sou mais do tipo que fica remoendo esse tipo de coisa, num delírio meio reacionário. Mesmo porque tenho a terrível impressão de que quanto mais esforço fizermos pra evitar que as coisas acabem, mais rápido elas acabam. Ou pior, elas ficam anacrônicas, fora do tempo, sem graça, assim do nada.

Anônimo disse...

Sabe Noubar, isso tudo tem feito parte do meu pensamento desde alguns meses atrás...é estranho, é até mesmo desconfortável pensar que mais uma fase está próxima de ser concluída...chego até ficar aflita, sem saber como será meus dias sem estar na USP, ser ver meus amigos, sem jogar futebol, rs, mas qnd a aflição chega, sempre penso que pode ser diferente sim! E notamos isso sentindo a renovação que cada ano na facul proporciona...as amizades são renovadas, ampliadas, fortalecidas...bom, acho que vou começar a devanear no meu comentário...rs, só queria dizer que compartilho deste sentimento e que é sempre muito bom entrar no seu blog e ler essas palabras sobre coisas que fazem parte da nossa realidade como seres humanos! Infelizmente nem sempre dá tempo de ler (olha o tempo aí atrapalhando mais uma vez...rs), mas sempre que dá, dou uma lida!
Beijos!
Mi

Noubar Sarkissian Junior disse...

Pra seguir repercutindo esse texto aqui:

JP, que ótimo isso de escrever os relatos de fim de colegial! (seria muito bacana, mesmo sem ter nenhum laço afetivo com sua galera, ter contato com esse texto). E o noitão de dezembro tá aí...e é o último do ano! se topar e a programação empolgar, é só combinar.

JD, pois é, o DIAbO! rs
e vc é mesmo mais cético que eu...e, até por isso, mais indignado e ranzinza! (rs) Eu admiro isso tudo, mas enfim...se sofre mais...(é mais real...mais "terrível", pra usar de sua palavra) valeu cara!

Mi, é isso. Certamente não é tão trágico como o texto faz parecer, mas faz parte de nossos pensamentos, desde algum tempo, ao menos. Com mais frequência, digo. Eu tenho adorado a evolução do "meu" curso de história (e todas as outras coisas boas que ele trouxe). Entre elas, essas sensações magníficas que a participação de todos vcs têm me trazido! Beijos!

miragaia disse...

to em casa agora, quero chegar em tempo no predio e dar a sorte de encontrar alguem...

Anônimo disse...

É finalmente essa etapa de nossas vidas está terminando.
Não mais terei de aguentar falsidades e hipocrisias de pseudo-amigos. Não mais.

ASS: semeador da discórdia.

Anônimo disse...

hahahaha! O que foi esse último comentário?? hahahha

Carol Kuk

Noubar Sarkissian Junior disse...

Hum...comentários até dicotômicos. O erick com o desejo de encontrar alguém antes da aula, e nosso anônimo esbanjando desprezo pela hipocrisia dos pseudo-amigos.
Sei lá, já houve tempo em que eu também via hipocrisia em tudo, mas as relações humanas hoje me parecem menos exatas. carecem dessa nossa necessidade de analisar tudo...palavras soltas confortam. Amigos estão aí.

Anônimo disse...

Sr anônimo,

Bem vindo ao mundo dos homens e mulheres. Lá tudo pode ser hipocrisia e fingimento ou não. Quando a gente perde o medinho do imprevisível, até as hipocrisias podem virar coisas de verdade.

Agora ficar fugindo 'desse mundo de falsidade' é coisa de emo. Aliás, a necessidade de denunciar, anônimamente, a 'hipocrisia' indica uma necessidade de atenção disfarçada bem emo, mesmo.

Anônimo disse...

Sr anônimo,

Bem vindo ao mundo dos homens e mulheres. Lá tudo pode ser hipocrisia e fingimento ou não. Quando a gente perde o medinho do imprevisível, até as hipocrisias podem virar coisas de verdade.

Agora ficar fugindo 'desse mundo de falsidade' é coisa de emo. Aliás, a necessidade de denunciar, anônimamente, a 'hipocrisia' indica uma necessidade de atenção disfarçada. Coisa bem emo, mesmo.