terça-feira, 21 de agosto de 2007

Sobre eles, vagabundos!


Lembro-me bem de um tema de redação da unicamp que questionava: "o trabalho enobrece o homem?" Ah, meus maus tempos de ser posto a prova. Não que isso tenha cessado nem que vá acabar um dia, mas, deixemos pra lá! Voltemos à redação da unicamp. Nela, por sinal, eu não poderia ter usado vários termos já empregados nessa: formalidades. Pois bem, essa perguntazinha a aqual eu respondia quase que automaticamente - "Claro, ué...não é? isso...claro" - desestabilizou minhas idéias naquele momento. Hoje, sinto-as ainda mais contraditórias e retóricas.

Sabe o que é parar de trabalhar quando se tem quase 20 anos? Digo, depois de ter trabalhado assalariadamente desde os 14? Imagine, todos conseguimos. Decidi por isso e, atente, "decidir" é muito pesado pra essa construção. Afinal, pra deixar o serviço e viver só estudando, há de se ter alguém que o sustente. Portante, decidimos. Apresentei intenções: acataram. Duro é, mas não posso dizer que "é mais difícil pra mim que pro meu pai". Não é. As duas da tarde, ele anda por aí fazendo entregas. Eu? Faço isso.

Saio pra ir à faculdade e à ULM e divido meu espaço com milhares de pessoas, que sobrevivem nesse caos e têm suas atividades: professores, executivos, industriários, comerciários, armários. Mochila nas costas, e vou-me para os outros cantos da cidade estudar. Mesmo quando é as 8 da manhã, é música. E é nisso que eu tentei chegar. Explico: o que pensaria eu se, indo trabalhar 8 horas por dia, cruzasse com o estudante de violão que acha a música um meio de vida? Se na faculdade de História já não há muita credibilidade, imagine na música? Sendo ela "popular", então, é exagero. Ficar tocando "samba" em horário comercial não é aturável. Também componho a sociedade...corroboro parte de seus julgamentos.

Tudo o que eu disse e pouco direi nesse texto, tem a ver com a opinião de um músico e historiador - o Marco Prado -. Conhecendo a história, sabemos que a música sempre foi tarefa menor. Mesmo quando virtuosos consagrados, os profissionais da música são questionados: "Além de tocar, você trabalha?" Isso não é trabalho. Quando parece ser, é feito para a diversão de outros. Talvez um dia eu descubra se minha decisão foi acertada. Uma coisa é inegável: falam que músico é vagabundo. Não me indigno com isso (nem músico ainda sou). Ao contrário: concordo. Vagabundos... é isso mesmo.

Um comentário:

Fernando Chuí disse...

Noubar querido,
Obrigado pela visita ao blog e pelas gentis palavras.
Gostei muito do seu texto, concordo com tudo...
Quanto ao privilégio, é todo meu de poder trabalhar e conhecer pessoas bacanas como você no meio do percurso. Parece vagabundear...
Abração,
Chuí